terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A Indústria Farmacêutica e Os Médicos

Pontos de Vista: Dr. Ney Cavalcanti - 08/01/2008 15:42

Desde há muito, principalmente nos últimos anos, tem havido, por parte da sociedade, uma preocupação de regulamentar as relações dos médicos com os laboratórios farmacêuticos. O objetivo é que elas sejam sempre éticas. No Brasil, o órgão responsável, a Anvisa, tem criado uma série de normas e portarias com esta finalidade.

No senado americano está em discussão uma lei, denominada "Raios de luz solar sobre o pagamento dos laboratórios farmacêuticos aos médicos". As indústrias do ramo serão obrigadas a apresentar à sociedade o volume dos gastos despendidos com esta finalidade. O argumento é o de que são gastos bilionários e que são automaticamente repassados ao preço dos medicamentos.

Assim, é a sociedade americana quem está pagando pelas benesses oferecidas aos profissionais médicos. O grande objetivo da indústria é maximizar a venda dos seus medicamentos e o médico é o grande vendedor, com as suas prescrições.

Obviamente, se torna muito importante, para o laboratório, o marketing com estes profissionais. O faturamento com remédios, prescritos nos Estados Unidos, em 2001, foi de 160 bilhões de dólares (8 CPMF). Desta soma, calcula-se que cerca de 20% sejam gastos com os médicos.

Praticamente todos os profissionais de especialidades clínicas e cirúrgicas recebem ações dessa atividade. As formas de agrado à categoria médica são muitas. As mais simples são amostras grátis, pequenos brindes, canetas, blocos etc.

As mais complexas e onerosas são reservadas para aqueles que atendem um grande número de doentes e aos detentores de prestígio junto à comunidade médica ("os fazedores" de opinião). A estes últimos grupos são oferecidas viagens, profissionais ou de lazer, pagamento por consultoria, reembolso, palestras remuneradas etc.

A grande discussão é se esses tipos de relacionamentos são bons ou ruins para o paciente. Afinal, o grande objetivo da medicina deve ser, sempre, o ser humano, o doente. Há inúmeros argumentos de benefícios que esta relação pode produzir.

Em primeiro lugar, novas drogas, algumas delas muito importantes para a melhoria da saúde da humanidade, não poderiam ser lançadas. Afinal, os testes clínicos que precedem os seus lançamentos são realizados por médicos. A indústria também contribui de maneira decisiva para educação continuada. Patrocínio de sites, anúncios em revistas médicas, envio de artigos pela internet, livros, são algumas dessas ações.

Sem a importante ajuda da indústria farmacêutica, mais de 90% dos congressos médicos não poderiam ser realizados. A simples visita do propagandista pode trazer informações úteis.

No entanto, existem também críticas, muitas críticas. Além de aumentar o preço do medicamento, esse tipo de atividade também deve influenciar nas prescrições do profissional. O maior argumento de que isso ocorre são os bilhões de dólares despendidos pela indústria e que não o seriam se isso não acontecesse.

Apesar de estudiosos em Ciências Sociais afirmarem que um presente, mesmo simples, gera um sentimento de gratidão, de dívida, a maioria da categoria médica não acredita que isso ocorra. Mais de 60% dos médicos afirmam que o marketing não interfere nas prescrições.

Ao voltar de uma viagem ao exterior, patrocinado por um laboratório, o médico trocaria a prescrição de seu medicamento por um genérico? As relações dos laboratórios farmacêuticos com os médicos são mais do que necessárias, são essenciais. No entanto, devemos todos, sociedade, indústria farmacêutica e médicos, lutar para que elas sejam sempre éticas.

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